"A minha pátria é a língua portuguesa"

Friday, April 13, 2007

O Senão das Belas

Em 2001 quando surgiu a primeira edição do “Big Brother” eu tinha 14 anos e seguia quase religiosamente o avançar do reality-show. Há medida que o tempo foi passando (felizmente) comecei a perceber o quão parolo era este tipo de programa. Ver uma quantidade de gente isolada do mundo exterior, controlada 24 horas por dia por câmaras sedentas de cenas bombásticas de envolvimento sexual ou violência física ou verbal é deveras estupidificante. As telenovelas ainda conseguem transmitir alguns valores, mas os reality-shows exploram o que de pior há no ser humano quando este é obrigado a limitar-se a determinada esfera de relacionamentos. Passados 6 anos, parece que esta área da televisão é ainda um campo fértil que não se esgota. As audiências não se cansam de tanta pimbalhada. Ele foi “Big Brother”, “Big Brother Famosos”, “Quinta das Celebridades”, “O meu noivo” qualquer coisa, “O milionário”, enfim…
O novo modelo, o recente programa “A Bela e o Mestre”, não é apenas preocupante por ser um reality-show, mas pelos estereótipos que veicula.
A triste realidade é um Portugal é ainda um país de marialvas e machistas em geral. A ideia que uma mulher deve é estar em casa a coser as meias do marido e a preparar-lhe as refeições é ainda um conceito muito palpável. Vigora ainda a ideia que a plena realização de uma mulher passa única e exclusivamente pelo casamento. São mais as pessoas que perguntam à minha mãe se eu tenho um namorado do que aquelas que perguntam como vai correndo o curso.
Não se pode dizer que as concorrentes do programa não sejam inteligentes, até porque a inteligência é difícil de definir e apresenta múltiplas vertentes. São é pouco cultas. Mas, o que lhes falta em conhecimento compensam em corpos perfeitos. Eles são cultos mas são “ratos de laboratório”, “nerds”, basicamente têm dificuldades de relacionamento. Se bem que também seja injusta e desfasada a imagem que é passado acerca dos homens, acabam por ser as mulheres as mais expostas ao ridículo. Quando eles não sabem os mexericos dos famosos ou não sabem se vestir à metrossexual isso provoca uma gargalhada condescendente, mas quando são elas que não conseguem identificar Luís de Camões são gozadas e sujeitas a bocas. Eles são tímidos mas elas são absolutamente insípidas.
Voltará a ideia de que uma mulher bonita é burra e que as mulheres inteligentes não podem ser bonitas? Vamos voltar ao tempo em que as mulheres que estudam e trabalhavam faziam-no porque não tinham marido que as sustentasse? Seria um triste retrocesso para toda a sociedade.

5 Comments:

  • é a tv e a sociedade que ainda temos

    By Blogger melena, at 7:01 PM  

  • :)

    By Blogger CC, at 12:32 PM  

  • Permita-me discordar de uma coisa. Não vejo esse concurso, mas o tipo de mulheres que descreve não são acéfalas porque a sociedade criou o estereótipo. São assim porque cedo viram que são bonitas e cedo acharam que só isso importa. E não abundam apenas no nosso país de marialvas. E não são só mulheres.

    By Blogger kermit, at 6:10 PM  

  • Subescrevo totalmente! O que mais dissesse seria uma desnecessária repetição!

    Mariana

    By Anonymous Anonymous, at 4:55 PM  

  • Mais um blogue a ter em conta na literatura cibernética portuguesa!

    Sobre o "big brother" tudo está dito e as pessoas perceberam, no geral, o quanto o modelo se esgotou com o tempo e falta de qualidade dos particpantes.
    No entanto, dois reparos: Desde o ano 2000 que todos nós participamos no progarma, pois, quando saíres à rua, olha para o céu e para os edifícios e verás que todos somos os protagonistas desta novela cujo enredo principal trata da suposta luta contra o terrorismo. Segundo reparo: houve quem visse o big brother, nas suas vertentes "spin off" (tipo Survivor) e achasse que podia fazer melhor. Daí nasceu a série "Lost" que para além de ser genial em termos de narrativa, inaugurou uma espécie de "nouvelle vague" de folhetns televisivos.
    Só por isso digo que ainda bem que o Big Brother existiu!

    By Blogger Paulo Noval, at 11:29 AM  

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