Os Grandes Portugueses
Começou hoje com uma nota introdutória, mas o novo programa da RTP já dá que falar. Para os que ainda não sabem, trata-se de um programa de entretenimento e debate a partir da votação dos portugueses relativamente à figura mais marcante da nossa história. Qualquer pessoa pode ser nomeada, mas a RTP já disponibilizou uma lista para dar dicas e refrescar certas memórias enferrujadas, como a de uma senhora entrevistada que disse: “Para mim, é aquele senhor escritor que vive em Espanha… não me lembro o nome…”
Relativamente à lista que a RTP disponibilizou, de início não constava o nome de Salazar. Levantaram-se logo as vozes discordantes e acusadoras de “censura histórica”, esquecendo-se que a lista apresenta sugestões e não as opções obrigatórias de escolha. Uma rápida leitura da lista mostra que não são nomeados todos os políticos relevantes (por bons e maus motivos) da nossa história. Posteriormente, lá foi incluído o dito cujo. Sobre isso, concordo inteiramente com o Professor Marcelo Rebelo de Sousa quando disse hoje nas suas “Escolhas” que a diferença entre a democracia e a ditadura, é que a ditadura não permite a censura a si mesma enquanto a democracia permite a crítica a essa mesma democracia.
Na verdade acho que me estou a alongar demasiado, visto que não foi este o objectivo principal que me levou a escrever o presente texto. Durante o tal prelúdio ao programa em questão, diversas pessoas foram entrevistadas e convidadas a dar a sua opinião. Uma jovem (entre os 15 a 17 anos) respondeu convictamente: “Cristiano Ronaldo!” Reconhecendo a sua total liberdade e validade de opinião, não posso deixar de dizer que achei deprimente. Até pode ser que tenha dito o primeiro nome que lhe veio à cabeça, mas é triste que a primeira coisa que venha à cabeça de uma pessoa, quando questionada sobre uma personalidade relevante, seja o nome de um puto mimado e com mau feitio, que a única e melhor (?) coisa que faz pelo país é marcar golos.
Ele escreveu algum livro? Se sim, deve ter sido algo como “Porque chorei quando Scolari me substituiu”. Ele é algum político, advogado, economista, cientista de renome? Ele tem obra feita? Ele é escultor, pintor, arquitecto, músico conhecido além-fronteiras? Ele lutou para que Portugal, de alguma forma, melhorasse? Ele enobreceu a língua mãe? Tem algum projecto humanitário?
Penso que este programa vai ser interessante na medida em que vai fazer-nos ver que podemos ser bons, muito bons. Que existem, ou existiram, pessoas das quais nos podemos orgulhar de serem nossas compatriotas. E, espero eu, contribua para o enriquecimento cultural.
A verdade é que vai ser uma escolha árdua. Não defini bem a minha escolha. Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, Infante D. Henrique, Mário Soares, Maria João Pires, Eça de Queiroz, Egas Moniz, José Saramago, Zeca Afonso, Salgueiro Maia, entre muitos outros.
Cristiano Ronaldo? Definitivamente, não me parece.
Relativamente à lista que a RTP disponibilizou, de início não constava o nome de Salazar. Levantaram-se logo as vozes discordantes e acusadoras de “censura histórica”, esquecendo-se que a lista apresenta sugestões e não as opções obrigatórias de escolha. Uma rápida leitura da lista mostra que não são nomeados todos os políticos relevantes (por bons e maus motivos) da nossa história. Posteriormente, lá foi incluído o dito cujo. Sobre isso, concordo inteiramente com o Professor Marcelo Rebelo de Sousa quando disse hoje nas suas “Escolhas” que a diferença entre a democracia e a ditadura, é que a ditadura não permite a censura a si mesma enquanto a democracia permite a crítica a essa mesma democracia.
Na verdade acho que me estou a alongar demasiado, visto que não foi este o objectivo principal que me levou a escrever o presente texto. Durante o tal prelúdio ao programa em questão, diversas pessoas foram entrevistadas e convidadas a dar a sua opinião. Uma jovem (entre os 15 a 17 anos) respondeu convictamente: “Cristiano Ronaldo!” Reconhecendo a sua total liberdade e validade de opinião, não posso deixar de dizer que achei deprimente. Até pode ser que tenha dito o primeiro nome que lhe veio à cabeça, mas é triste que a primeira coisa que venha à cabeça de uma pessoa, quando questionada sobre uma personalidade relevante, seja o nome de um puto mimado e com mau feitio, que a única e melhor (?) coisa que faz pelo país é marcar golos.
Ele escreveu algum livro? Se sim, deve ter sido algo como “Porque chorei quando Scolari me substituiu”. Ele é algum político, advogado, economista, cientista de renome? Ele tem obra feita? Ele é escultor, pintor, arquitecto, músico conhecido além-fronteiras? Ele lutou para que Portugal, de alguma forma, melhorasse? Ele enobreceu a língua mãe? Tem algum projecto humanitário?
Penso que este programa vai ser interessante na medida em que vai fazer-nos ver que podemos ser bons, muito bons. Que existem, ou existiram, pessoas das quais nos podemos orgulhar de serem nossas compatriotas. E, espero eu, contribua para o enriquecimento cultural.
A verdade é que vai ser uma escolha árdua. Não defini bem a minha escolha. Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, Infante D. Henrique, Mário Soares, Maria João Pires, Eça de Queiroz, Egas Moniz, José Saramago, Zeca Afonso, Salgueiro Maia, entre muitos outros.
Cristiano Ronaldo? Definitivamente, não me parece.
posted by Carolina Almeida at
11:00 PM
5 Comments:
concordo com todo o post à excepção de Mário Soares.
Mário Soares conduziu o país literalmente à banca rota e só a intervenção do FMI pôs cobro à situação.
o meu voto Infante D. Henrique e Pessoa
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melena, at 3:14 PM
realmente, não me parece que Cristiano Ronaldo tenha desenvolvido um percurso de nobreza suficiente para ser nomeado, os restantes, bem ou mal, tiveram relevo suficiente para merecerem destaque. no entanto, a nomeação do miúdo da bola também é um reflexo do país que temos.
já os que merecem a minha simpatia são mais Alexandre Herculano, Rafael Bordalo Pinheiro, Teófilo Braga ou Natália Correia, a ir para futebolistas, era mais o Eusébio.
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rita, at 10:33 PM
Se o C. Ronaldo numa hipotética final dum mundial marcasse o golo da vitória de Portugal até eu votava nele. Como isso não aconteceu contento-me com o Eça.
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nuno, at 11:03 PM
Concordo quase na totalidade com as opiniões aqui manifestadas. Todos os nomes referidos são, sem dúvida, merecedores de tal distinção, sendo esta lista bastante extensível. Só discordo com um pequeno ponto: compreendo que, no meio de tantas personalidades tão sublimes, pareça absurdo nomear o Cristiano Ronaldo. No entanto, estamos a esquecer-nos que há muitas pessoas que só têm alguma alegria quando o vêem a ultrapassar um adversário ou a meter um golo. Pensem naqueles que não tiveram os privilégios que nós tivemos (folhear um livro, apreciar uma pintura, etc.), que têm dificuldades, que vivem sozinhas e que, em geral, são infelizes (de todas as maneiras de que se possam lembrar) e digam lá se, para essas pessoas, o Cristiano Ronaldo, que, ao menos, lhes traz algumas reuniões de amigos, alguns sorrisos e alguma emoção, não é o Português mais importante?
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Anonymous, at 10:22 PM
Pedro:
Excelente ponto de vista. Aliás, lembraste daquele jantar com o Dr. Bernardes no dia em que Portugal ganhou a Inglaterra? Acho que o Cristiano Ronaldo tinha marcado um golo ou dois e nós estávamos absolutamente eufóricos por três motivos: tínhamos feito o último exame, tínhamos passado a anatomia e Portugal tinha passado às meias-finais. O jantar foi super-divertido e o Cristiano Ronaldo era o homem da noite.
Tal como nós, muitas outras pessoas devem ter-se sentido felizes nessa altura e como dizes, para aqueles que passam deveras dificuldades na vida (pelos mais díspares motivos) ele bem pode ser um herói, o maior dos Portugueses, por lhes proporcionar momentos de prazer e emoção.
Como muito bem dizes, muitas pessoas não tiveram o previlégio da educação que temos (e muitas vezes não sabemos apreciar!).
Bem, isso só vem reforçar a minha opinião do quão necessária e fundamental é a educação e a cultura, que vem por arrasto. Educação essa que apesar de obrigatória, ainda não é perfeita, se tivermos em conta as disparidades sociais.
Como refiro no post, pode ser que o programa dê um empurrãozinho.
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Carolina Almeida, at 11:57 AM
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