"A minha pátria é a língua portuguesa"

Wednesday, September 20, 2006

A propósito do Gordon

A questão das alterações climatéricas é, hoje em dia, incontornável. Se bem que apocalipticamente e com muitos erros científicos à mistura, o filme “O Dia Depois de Amanhã” teve bastante mérito por chamar a atenção das massas para esta realidade. Os verões tórridos e o aumento dos furacões, por exemplo, não são fruto do acaso. São fruto de anos selvagens em que construímos a nossa sociedade escrava de combustíveis fósseis.
Recentemente li um artigo bastante lúcido e inteligente, de Bill McKibben, ensaísta ambiental, publicada na National Geographic Portugal (do corrente mês), sobre a evolução que o conceito de ambientalismo terá de sofrer. Aqui ficam alguns excertos mais significativos.

“O velho paradigma alega que julgamos quase todas as questões com base na pergunta “Será que isto vai melhorar a economia?” Se a resposta for afirmativa, aceitamos o que quer que esteja em questão. […] Os combustíveis que possibilitaram o nosso crescimento são precisamente os mesmos que ameaçam agora a nossa civilização. Se queimarmos um litro de gás, libertamos mais de meio quilo de carbono para a atmosfera. […]
Tudo isto significa que necessitamos de uma nova ideia. Temos de parar de nos perguntar “Será que isto vai melhorar a economia?” Em vez disso, devemos perguntar-nos “Será que isto vai atirar mais carbono para a atmosfera?” Uma parte da mudança terá de ser tecnológica. Se as emissões de carbono custassem dinheiro aos produtores, construiríamos centrais eólicas muito mais depressa. Todos os carros seriam híbridos e todas as lâmpadas seriam fluorescentes. Todas as novas centrais a carvão teriam de separar o carbono dos gases de exaustão e enterrá-lo no subsolo. […]
Precisaríamos de uma espécie de ambientalismo cultural que levantasse questões mais profundas do que aquelas que estamos habituados a levantar. […] Desde que os investigadores iniciaram as sondagens de contentamento social, nos anos seguintes à Primeira Grande Guerra, a percentagem de americanos que se consideram “muito felizes” com a sua vida mantêm-se igual, ainda que o nível de vida material tenha praticamente triplicado durante o mesmo período. O facto de termos mais coisas não está a fazer-nos mais felizes, mas não conseguimos quebrar o ciclo que nos oferece mais coisas como o nosso único objectivo real. […]
Construímos a sociedade mais hiperindividualizada que o mundo alguma vez viu. […] Isso contribui também para a tal crescente insatisfação e para a nuvem de dióxido de carbono. Se toda a gente for de carro para todo o lado, será difícil reduzir as emissões. […] Imagine uma unidade eólica no fim da rua sem saída onde vive, alimentando as dez casas do bairro. Produziria imensa camaradagem e pouco carbono. […] O ambientalismo tornou-se com frequência um tema desconsolado. Mas um ambientalismo de convívio, que nos obrigasse a descobrir o que realmente queremos da vida oferece profundas possibilidades. […] O ambientalismo não está a morrer. Com efeito, nunca foi tão necessário. Mas terá de se transformar em algo tão diferente que o antigo nome deixará de fazer sentido. Terá de defender um novo tipo de cultura e não um novo tipo de filtro; terá de prestar tanta atenção a oradores como presta a cientistas; terá de se preocupar tanto com a cenoura do mercado dos agricultores como se preocupa com o veado da tundra árctica. É isso que nos dizem as imagens das concentrações atmosféricas de dióxido de carbono e as mensagens repetidas pelos investigadores que estudam a felicidade e a satisfação. Não precisamos de uma versão ligeiramente calibrada do mundo que habitamos agora; temos de começar a realizar mudanças à escala do problema que enfrentamos.”

2 Comments:

  • Antecipaste-te no post sobre o tema... :)

    Bjs,

    C.

    By Blogger Cláudia Vau, at 11:08 AM  

  • enquanto não levarmos a sério que a terra é nossa casa, e que devemos cuidar dela nada feito

    By Blogger melena, at 11:18 AM  

Post a Comment

<< Home