"A minha pátria é a língua portuguesa"

Saturday, August 18, 2007

A minha mãe diz que os grilos cantam no tempo dos milhos

Se o objectivo era levar a água ao moinho, ou talvez seja melhor dizer, dados os contornos do caso, levar os grãos de milho ao moinho, não podiam ter-se lembrado de maneira mais infeliz de o fazerem. Estou a falar, claro, do grupo de activistas ambientais do grupo Verde Eufémia que ontem invadiu um campo de milho trangénico em Silves, como forma de protesto contra este tipo de culturas. Se preferisse perseguir a imparcialidade jornalística diria que o referido grupo ceifou o milho, mas dado que este é um espaço de opinião, digo que o campo foi vandalizado.
Antes de mais, os Organismos Geneticamente Modificados (OGM’s) são espécies vegetais ou animais cujo património genético foi alterado por introdução de gene ou genes de outras espécies diferentes. Entre os objectivos da manipulação genética destacam-se aumentar as colheitas, diminuir o uso de químicos, aumentar o valor nutritivo e durabilidade dos alimentos e tornar as plantas mais resistentes ao ataque de pragas através da incorporação de toxinas. Os OGM’s são uma matéria altamente polémica: a grande bandeira dos seus defensores é que a utilização em larga escala destas espécies alteradas erradicará a fome no mundo. Os detractores desta tecnologia acenam com a poluição genética, o efeito pouco claro na saúde, a perda de biodiversidade e o potencial efeito de selecção de pragas resistentes.
Os estudos existentes não são conclusivos e como tal recomenda-se prudência e sensatez na utilização do OGM’s. Por outro lado, estes alimentos já fazem parte do nosso quotidiano alimentar sem que nos apercebamos disso, uma vez que a rotulagem não é devidamente cumprida, o que impede a livre escolha do consumidor.
Até aqui, estou perfeitamente de acordo com os activistas. Digamos é que o seu modus operandi merece a minha total desaprovação. A destruição de um campo de um pequeno agricultor não dá credibilidade nem respeitabilidade à causa. Foi péssima publicidade porque lhes imprime o rótulo de vândalos. A brutalidade da “ceifa” despertou a violência dos proprietários e vizinhos, que tentaram, e alguns conseguiram, chegar-lhes a roupa ao pêlo. A violência e a revolta são maus campos onde se plantar a consciência cívica e ambiental. Perante a perda dos seus rendimentos, não podemos esperar que os proprietários passem a agricultores biológicos e apregoem os mandamentos da defesa do ambiente.
Por outro lado, a superioridade cultural e intelectual que os ditos activistas pretendem demonstrar ao dizerem que não têm nada contra o proprietário e lhe vão oferecer sementes não modificadas, cai muito mal. O agricultor defende-se com a legalidade da cultura. E ao escudar-se atrás da lei talvez ele nem soubesse que está a tocar no busílis da questão: é que o problema deve ser debatido a nível governamental. Mas para isso é preciso chamar a atenção da opinião pública, dirão eles. Tudo muito certo, mas não desta maneira. Gritem, esperneiem, façam barulho no Ministério do Ambiente ou da Agricultura, protestem em frente de fábricas, distribuam panfletos (reciclados, claro está), façam campanhas.
Acima de tudo, protejam a vossa imagem, e consequentemente a vossa causa, e comportem-se mais como gente inteligente do que como vândalos lunáticos.

2 Comments:

  • Acho que esta questão resume-se simplesmente a dois factos: invasão de propriedade alheia e destruição de bens alheios.
    O resto é conversa para tapar os olhos às pessoas. Com o que aconteceu, querer debater agora a questão dos alimentos modificados é como dar guarrida a criminosos, é como debater se Bin Laden tem ou não razão na sua forma de proceder. As leis e o Estado de Direito existem.
    Outro aspecto negativo: a imprensa. Nas coberturas noticiosas falavam em activistas. Para mim, uma palavra: vândalos. Eis a diferença quando o politicamente correcto entra em cena. Se por acaso alguém entrasse na casa do meu vizinho e lhe danificasse partes da casa só pelo facto de ter um cão preso por uma trela numa casota a ladrar todo o santo dia; pode esse alguém ser considerado de activista em defesa dos animais?

    Felicidades por terras coimbrãs.

    By Blogger Paulo Noval, at 1:08 PM  

  • É exactamente isso.
    Não se percebe como se quer passar uma mensagem tão delicada, se faz uma acção daquelas.
    Não é assim, certamente, que se alistam pessoas para uma causa.
    Enfim...

    By Anonymous Anonymous, at 11:32 AM  

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