"A minha pátria é a língua portuguesa"

Monday, September 24, 2007

"Quando penso no mar, o mar regressa"

Não é impunemente que se nasce ilhéu. Vive-se para sempre escravo de uma ilusão de óptica que impõe fronteiras confortáveis ao nosso mundo. A perfeita fusão entre mar e céu, os tons de azul indefiníveis, o contorno impreciso e a própria inexistência física do horizonte fazem dele fonte de sentimentos ambíguos e quase antagónicos.
Se a frustração pela limitação geográfica que o próprio conceito de ilha encerra já pode ser mais facilmente mitigada, o mesmo não se poderá dizer do fascínio que o horizonte evoca. Em cada janela panorâmica procura-se a promessa da liberdade mais ampla, mais perfeita, mais impoluta. Não necessariamente uma fuga, mas o sentimento de paz interior decorrente da noção de infinito.
O ilhéu entende o mar como parte de si próprio. Revê-se no seu temperamento mutável, da doce serenidade à violência das tempestades, sente a sincronia entre o bater do seu coração e a respiração marítima, sabe como moldar pacientemente a rocha e compreende a inevitabilidade de morrer e renascer como as ondas da praia.

3 Comments:

  • Este é um dos mais belos textos que publicaste.

    O ser ilhéu. Também eu nasci nesta Condição.
    O Mar é uma presença constante, esperada, desejada, indissociável de nós. É um elemento fulcral do nosso próprio equilíbrio, o que pode parecer contraditório dada a sua essência mutável. Mas é como um experiente marujo que encontra sempre a perpendicular sobre qualquer onda.

    É pura verdade: "não é impunemente que se nasce ilhéu".

    Deixo-te uma frase de Sophia:

    "O sol, o vento e o mar são minha biografia e são meu rosto".

    Podendo, faria minhas as palavras da Poetisa, qual "ex-libris".

    By Blogger Mani, at 3:58 PM  

  • Prometi que ia começar a ver o teu blog com mais frequência e estou a cumprir a promessa.
    Magnífico texto. Faz com que regresse em pensamento, e por breves momentos, às praias da minha infância, adolescência, da minha vida.
    É esta saudade que traz lágrimas que sabem bem, lágrimas que simbolizam o valor que damos ao que ficou para trás e que nos fazem querer voltar para abraçar tudo de novo.
    Tua amiga e quase irmã
    Joana

    By Anonymous Anonymous, at 9:24 PM  

  • Irra que difícil é cá chegar...eheheheheheh
    Beijão grandeeeeeeee

    By Blogger Laurentina, at 10:49 PM  

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