Este nosso Abril
Num dia em que as figuras políticas do nosso país vão ser entrevistadas e vão repetir banalidades e lugares comuns sobre o 25 de Abril, como quem expõe uma lição há muito estudada e ensaiada ao espelho, penso que ficaria mal deixar passar em branco esta data tão relevante aqui no meu blog, até porque, antes de mais, é um feriado! Claro que há sempre quem prime pela originalidade: sempre bombástico e pouco diplomático, Alberto João Jardim afirmou que não vai comemorar o 25 de Abril. É um direito: é a liberdade de não comemorar o dia da liberdade…
Mas deixemo-nos de jogos de palavras. Ao pensar no texto para hoje ainda ponderei em colocar “A Trova do Vento que Passa” de Manuel Alegre ou um poema de Ary dos Santos. Contudo, e inspirada no exemplo irreverente do político madeirense, decidi por uma abordagem diferente: uma polémica literária.
Quem andou com atenção às notícias nos últimos tempos, ouviu falar que a escritora Margarida Rebelo Pinto e a sua editora, a Oficina do Livro, interpuseram uma providência cautelar, com o intuito de impedir a publicação do livro crítico de João Pedro George - Couves e Alforrecas – Os segredos da escrita de Margarida Rebelo Pinto. De facto, o referido senhor, respondendo ao queixume da autora por ser sistemática e insistentemente ignorada pela crítica literária, decidiu “dissecar-lhe” os 8 livros publicados. O resultado foi um livro que a escritora e a editora consideram “lesivo dos direitos de personalidade, de autor e de propriedade industrial da autora”. A editora chegou a pedir que os exemplares do texto crítico fossem entregues no seu armazém.
Ao que parece, o livro não foi considerado ofensivo à pessoa da escritora. E o argumento de que o crítico se estava a aproveitar do nome da escritora para ganha dinheiro também não me parece muito válido, uma vez que João Pedro George, para além de ser docente universitário, é um dos críticos literários mais respeitados da praça portuguesa.
Grosso modo, o crítico refere que Margarida Rebelo Pinto, ao longo das suas obras, se auto-plagia, repete frases com sentido semelhante e comente erros ortográficos. Os temas são recorrentes e os desfechos previsíveis. Como qualquer livro light que se preze, acrescento eu.
Quem anda a choramingar e a dizer que por ser a escritora que mais vende em Portugal não compreende porque é que a crítica não lhe liga, como uma criança embirrenta que só porque comeu a sopa acha que pode fazer tudo o que lhe apetece, acho muito estranho que esteja muito aborrecida só porque a crítica não lhe é favorável. Provavelmente, alguém não lhe explicou as regras do jogo: a liberdade de expressão tanto dá para a crítica favorável como para a crítica desfavorável. Vicissitudes do sistema… É o melhor que temos apesar de não ser perfeito. E depois, isto tudo serviu só para fazer publicidade gratuita de Couves e Alforrecas. Uma atitude mais indiferente não teria despertado tanta curiosidade.
Não pretendo com isto querer dizer que a autora não tem o direito de expressar a sua indignação e recorrer aos tribunais. Mas será que ela respeita a liberdade de expressão do crítico? Ou melhor, qual é a fronteira entre a liberdade de um e a de outro? E qual das duas deve prevalecer?
Só vem isto mostrar que “as portas que Abril abriu” ainda mantêm frestas duvidosas, não estando completamente escancaradas e que a total realização da liberdade, como valor fundamental e primordial, talvez seja uma expectativa utópica.
Mas deixemo-nos de jogos de palavras. Ao pensar no texto para hoje ainda ponderei em colocar “A Trova do Vento que Passa” de Manuel Alegre ou um poema de Ary dos Santos. Contudo, e inspirada no exemplo irreverente do político madeirense, decidi por uma abordagem diferente: uma polémica literária.
Quem andou com atenção às notícias nos últimos tempos, ouviu falar que a escritora Margarida Rebelo Pinto e a sua editora, a Oficina do Livro, interpuseram uma providência cautelar, com o intuito de impedir a publicação do livro crítico de João Pedro George - Couves e Alforrecas – Os segredos da escrita de Margarida Rebelo Pinto. De facto, o referido senhor, respondendo ao queixume da autora por ser sistemática e insistentemente ignorada pela crítica literária, decidiu “dissecar-lhe” os 8 livros publicados. O resultado foi um livro que a escritora e a editora consideram “lesivo dos direitos de personalidade, de autor e de propriedade industrial da autora”. A editora chegou a pedir que os exemplares do texto crítico fossem entregues no seu armazém.
Ao que parece, o livro não foi considerado ofensivo à pessoa da escritora. E o argumento de que o crítico se estava a aproveitar do nome da escritora para ganha dinheiro também não me parece muito válido, uma vez que João Pedro George, para além de ser docente universitário, é um dos críticos literários mais respeitados da praça portuguesa.
Grosso modo, o crítico refere que Margarida Rebelo Pinto, ao longo das suas obras, se auto-plagia, repete frases com sentido semelhante e comente erros ortográficos. Os temas são recorrentes e os desfechos previsíveis. Como qualquer livro light que se preze, acrescento eu.
Quem anda a choramingar e a dizer que por ser a escritora que mais vende em Portugal não compreende porque é que a crítica não lhe liga, como uma criança embirrenta que só porque comeu a sopa acha que pode fazer tudo o que lhe apetece, acho muito estranho que esteja muito aborrecida só porque a crítica não lhe é favorável. Provavelmente, alguém não lhe explicou as regras do jogo: a liberdade de expressão tanto dá para a crítica favorável como para a crítica desfavorável. Vicissitudes do sistema… É o melhor que temos apesar de não ser perfeito. E depois, isto tudo serviu só para fazer publicidade gratuita de Couves e Alforrecas. Uma atitude mais indiferente não teria despertado tanta curiosidade.
Não pretendo com isto querer dizer que a autora não tem o direito de expressar a sua indignação e recorrer aos tribunais. Mas será que ela respeita a liberdade de expressão do crítico? Ou melhor, qual é a fronteira entre a liberdade de um e a de outro? E qual das duas deve prevalecer?
Só vem isto mostrar que “as portas que Abril abriu” ainda mantêm frestas duvidosas, não estando completamente escancaradas e que a total realização da liberdade, como valor fundamental e primordial, talvez seja uma expectativa utópica.
6 Comments:
Actualmente, sempre que vamos a uma livraria abunda o lixo de algo que nem merece ser chamado de «pseudo-literário»... são os livros dos futebolistas, das modelos, das escritoras pop, de signos... enfim... e vendem! E muito!
Pensemos então... os portugueses praticamente não tocam num livro, e quando o fazem é para ler porcaria...
E depois, por causa da falta de procura, certas obras são muito difíceis de encontrar... Por exemplo, em plena cidade de Coimbra quase não encontrava o «Histologia Básica»!
Cá por mim, prefiro seguir o conselho de um crítico literário britânico- primeiro ler os verdadeiros clássicos (Cervantes, Eça, Pessoa, Camões, Dumas, Jane Austen, Emily Bronte, Dickens, Dante, etc) e só depois autores modernos. Mas qualquer coisa como Saramago, por exemplo, e nada de Margaridas Rebelos Pinto.
By Anonymous, at 5:42 PM
Como costumo a dizer: o 25 de Abril é bonito...
By Anonymous, at 9:53 PM
Olha Nuno, esqueceste-te das aspas. Agora que toda a gente fala de direitos de autor e marcas registadas, se fosse a ti tinha mais cuidado...
By Carolina Almeida, at 1:07 PM
Frederico:
Dá para compreender que Margarida Rebelo Pinto se tenha assustado com a crítica... ela deve estar plenamente consciente de que a sua escrita é medíocre. Confesso que nunca li nada dela, nem pretendo, mas conheço o estilo light. Como costumo dizer, é literatura que é escrita à pressa antes dos autores irem para o emprego.
By Carolina Almeida, at 1:12 PM
ela tem o direito de recorrer aos tribunais. nao parece é ter razão (ou seja nenhum tribunal lhe dará ouvidos).
pois o o crítico tem direito de dizer o que acha da obra (desde de que não ofenda a pessoa)
quid iuris
By melena, at 11:18 AM
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»
By Anonymous, at 7:18 AM
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