"A minha pátria é a língua portuguesa"

Friday, June 29, 2007

Chover no molhado

Na sequência do meu post anterior, tenho a anunciar que para além de aprender a falar Espanhol vou iniciar-me nas artes do oculto. Repararam como tenho um talento natural para prever acontecimentos futuros? Agora resta-me refinar a nobilíssima arte de intrujar infelizes em apuros e claro, aprender a interpretar os sombrios presságios de uma bola de cristal, os intricados desenhos de folhas de chá e a combinação subtil das cartas do Tarot.
Desta vez a saga passa-se no ramo da Saúde, que tal como o da Educação, é um campo sensível da política portuguesa (mas pensado bem, há algum campo que não seja sensível?). Por não ter sido suficientemente célere a mandar retirar a (boa) piada de um médico, a directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, Maria Celeste Cardoso, foi exonerada do cargo que ocupava. Mas esta é a versão dos inimigos da pátria, conspiradores e não tementes a Deus. Nestes tempos de crise, contudo, há que dizer que a versão da ordem estabelecida (e portanto inquestionavelmente verdadeira) é que a dita senhora não era suficientemente idónea para ocupar o cargo. Para evitar males futuros, o melhor que tenho a fazer é vergar-me ao poder político e dizer que “sim senhor, apesar de nunca ter estado em Vieira do Minho e não conhecer a Senhora Maria Celeste Cardoso, sempre tive a certeza de não ser esta a pessoa indicada para o lugar”.
Abstenho-me de comentar, dado que o que tenho a dizer é somente a repetição daquilo que referi no post anterior, isto é, o meu profundo desprezo por qualquer atitude pidesca, intolerante e que cheire levemente a Estado Novo.
Manuel Alegre lamenta-se por ter andado a pregar aos peixes. Não tenho a certeza do que o vento que passa lhe responderia se questionado acerca do país, mas, e fazendo jus à minha potencialidade de mestre do oculto, não agoiro nada de positivo.

Friday, June 08, 2007

No País dos Bufos

Estou a pensar seriamente em encerrar este blog. Ou pelo menos deixar de o assinar com o meu verdadeiro nome. A verdade é que nunca se sabe quem o vai ler e depois andar por aí a espalhar as minhas opiniões, as quais podem não ser concordantes com a ordem estabelecida das coisas. De textos e ideias inócuas podem advir grandes males futuros, sei lá, coisas como ser impedida de terminar o curso ou mesmo proibida de trabalhar para o Serviço Nacional de Saúde.
Eu já deixei de dizer piadas acerca de licenciatura (?) do nosso Primeiro Ministro em Engenharia Civil. Se ao professor Fernando Charrua, com uma larga carreira, não hesitaram em suspender as suas funções, tremo só de pensar o que me pode acontecer.
Mas se pensarmos bem, nada disto é assim tão estranho. Em primeiro lugar, já lá vão largos anos, o secretário de Estado adjunto da Cultura, Sousa Lara, vetou o livro Evangelho Segundo Jesus Cristo de uma lista de romances portugueses candidatos a um prémio europeu, porque, certamente, ofendia as suas convicções católicas. Interessante. Chateado, e com razão, o nosso Nobel foi viver para Espanha.
Há questão de alguns meses, foi eleito como Maior Português de Sempre, nada mais, nada menos que Salazar. Absolutamente fantástico. Mimoso mesmo. Será que não havia mais ninguém? Já todos se esqueceram do que era a vida antes do 25 de Abril? Devia ser simpático ter visitas da PIDE. Portugal até era rico? Vale de muito ser rico se o povo é ignorante… Sempre pensei que os suspiros que se ouvem por aí – “No tempo de Salazar não era nada disto…” – fossem meros devaneios saudosistas, daqueles a que os portugueses são tão atreitos por qualquer alteração genética centenária.
Pessoalmente, considerei um insulto a todos aqueles que sofreram para construir o Portugal de hoje. Imperfeito, sem dúvida, mas pelo menos democrático.
E agora surge esse velho novo fantasma: o da pura mesquinhez daqueles que ganham favores à custa dos desabafos do colega. O das piadas. Ou das opiniões.
Acho que vou começar a aprender Espanhol.