"A minha pátria é a língua portuguesa"

Saturday, August 19, 2006

O pó debaixo do tapete

Para os micaelenses, as noites de verão no Campo de São Francisco, Ponta Delgada, já não são uma novidade. Trata-se da dinamização de um espaço, por sinal bastante agradável, com diversas barraquinhas de venda e respectivas esplanadas. Lembro-me de há uns verões atrás, não sei precisar quantos, assisti lá a um pequeno concerto de música de câmara de grande qualidade.
O objectivo que está por trás deste projecto é, suponho eu, animar a noite de Ponta Delgada. Contudo, não posso deixar de pensar que, o facto de o Campo de São Francisco ser um espaço frequentado por toxicodependentes, alcoólicos, prostitutas e mendigos, não tenha sido um motivo para a dinamização desse espaço. Isto é, sou da opinião que a Câmara pretendeu, pelo menos de verão, que essas pessoas não frequentassem o Campo.
A verdade é que isso não altera em nada o facto de existirem esses grupos problemáticos. Empurrando-os para outros sítios, cria-se a ilusão que não existem. Como alguém que varre o chão e põe o pó debaixo do tapete. Ele continua lá, mas não é visível às visitas.
Pergunto-me eu: o que é que é feito para ajudar essas pessoas? O que é que é feito, por exemplo, pelos mendigos que procuram abrigo nas portas das lojas e cujos proprietários ficam mais preocupados com o aspecto do que com o frio e a fome que os primeiros passam.

Tuesday, August 08, 2006

Avada Kedavra

A conhecida série “Harry Potter” está a chegar ao fim. J. K. Rowling, a autora, está a escrever o 7º e último livro, que ainda não tem nome nem data prevista para o lançamento.
Actualmente a autora tem vindo a dizer que (mais) duas personagens importantes da série vão morrer, não pondo de parte a hipótese de matar o seu herói. Disse também que admirava escritores como Agatha Christie e Sir Arthur Conan Doyle que assassinaram as suas personagens principais (respectivamente Poirot e Sherlock Holmes) de forma a que nenhum outro escritor se apoderasse delas.
Ora essa sugestão está a causar uma verdadeira histeria entre os fãs do feiticeiro. Ao que parece, dois outros escritores, Stephen King e John Irving, pediram-lhe pessoalmente que não matasse Harry Potter.
Como fã da série, desejo apenas que o último livro seja melhor que os dois anteriores (A Ordem da Fénix e O Príncipe Misterioso). Não sendo totalmente maus (afinal é Harry Potter) fiquei com a sensação que são livros um pouco ocos, escritos tendo mais em vista a quantidade do que a qualidade. Por mim, Rowling até podia fazer picadinho de Harry Potter e dar de comer ao Voldemort (o vilão da série). Desejo um bom final, o que não significa que tenha de seguir o convencional “e viveram felizes para sempre”.
Mesmo que a autora mate o herói, vai sofrer tanta pressão dos fãs que vai acabar por ressuscitá-lo, inventado um trinta e um, tal como Conan Doyle fez.
Portanto, penso que as pistas veladas que Rowling tem vindo a lançar sobre o último livro servem apenas para garantir que o próximo lançamento faça história e que a pottermania atinja o seu auge. Em poucas palavras: está a fazer publicidade.
Afinal tem que combater o facto de a Igreja considerar os seus livros "uma subtil sedução que passa despercebida e tem como resultado o enterro da alma cristã antes mesmo que essa possa ter-se desenvolvido."

(Nota: Avada Kedavra é o feitiço do assassínio no mundo de Rowling)

Saturday, August 05, 2006

Se a alma não é pequena

Segundo a Ministra da Educação, a repetição dos exames nacionais de Química e Física “valeu a pena” porque:

· O número de estudantes com positiva a Química duplicou. Isto, segundo ela, porque tinham realizado uma prova semelhante poucos dias antes. Já para Física o argumento não é válido porque a taxa de reprovação subiu de 67% para 70%. Certamente os meninos já tinham esquecido as fórmulas decoradas a cuspo.

· Mais de quatro mil alunos já poderão aceder à faculdade. Sra Ministra, os reitores agradecem. Agora vamos ver como se dão os meninos habituados a milagres governamentais.

Perguntemos agora se “valeu a pena” aos estudantes que:

· Tiraram boas notas na 1ª fase e concorrem em pé de igualdade com aqueles que repetiram o exame.

· Optaram por fazer os referidos exames em 2ª fase e que portanto só tiveram uma oportunidade. Maria de Lurdes Rodrigues defende que a opção foi deles. Sim de facto. Mas essa decisão é sempre baseada no facto de que as hipóteses são equivalentes.

Eu sei que pode parecer conspirativo, mas não me espantaria nada se se viesse a descobrir que por detrás desta decisão estava um filhote de papás influentes que se espetou em Química e portanto já não entrava em Medicina.
Ao que parece, na conferência de imprensa a Ministra frisou várias vezes que “valeu a pena”. Não sabia que apreciava tanto Pessoa.