"A minha pátria é a língua portuguesa"

Wednesday, June 21, 2006

Sobre a Educação I

Actualmente muito se fala sobre a avaliação dos professores pelos encarregados de educação, mais uma proposta brilhante da Sra. Ministra Maria de Lurdes Rodrigues e dos seus pedagogos de gabinete, que, certamente, entre um aviãozinho de papel ou outro que atiram às secretárias dos colegas, lá vão conseguindo extrair essas pérolas das suas mui iluminadas inteligências.
A aparente justificação desta medida está na acusação precipitada e imprudente de que os responsáveis pelo insucesso escolar dos alunos são os professores. E digo precipitada e imprudente por uma simples razão: o insucesso escolar é um fenómeno complexo que não pode ser abordado sob uma perspectiva tão simplista e redutora.
Nunca dei aulas, nem pretendo, mas a experiência ensinou-me que um professor pode pintar-se de ouro ou fazer o pino, que se um aluno não estiver motivado, não será por isso que passará a estar. Mas não pretendo aqui dissertar sobre este triste fenómeno. Ficará para uma próxima oportunidade.
A avaliação dos professores é importante, mas ser feita pelos encarregados de educação é um absurdo. A avaliação seria tendenciosa, injusta e incompetente. Muito se ouve falar sobre casos em que os meninos vão carpir junto dos papás porque foram repreendidos por falarem para o lado ou porque não atingem a positiva, sabe-se lá, talvez porque o professor não gosta da cor dos seus olhos. E os papás muito babadinhos levantam-se em armas porque: “Ai já viu, aquele professor é tão injusto, e logo com ele que é tão aplicadinho…” Não direi que todas as queixas sejam injustificadas, mas convenhamos que há muito bom menino que tende a interpretar a realidade como mais lhe convém.
A dita avaliação é importante na medida em que poderia representar um aumento no grau de excelência na educação. Contudo isso não implica um aumento proporcional no sucesso escolar. Estamos a falar de duas coisas distintas.
Comecei a entender a importância e a necessidade dessa avaliação devido a uma situação à qual assisti durante dois anos, quando frequentava o secundário.
Uma professora minha, cujo nome não é relevante, tinha um nível de assiduidade bastante mau. Durante um período ela chegou a leccionar cerca de 1/3 das aulas previstas. Resultado? No 11º ano não chegámos a dar “Viagens na minha Terra” nem “Os Maias”. O que chegou a ser leccionado era-o de um modo epidérmico. Lembro-me de numa aula ter iniciado um novo tema e de na aula seguinte estar a fazer teste sobre essa matéria. Os motivos pelos quais ela faltava, legítimos ou não, a mim pouco me interessavam, porque o resultado prático era que as aulas não funcionavam de forma eficiente. Ela alegava muitos problemas. Mas que culpa tínhamos nós disso?
De facto, sou a favor da avaliação, mas por organismos competentes e objectivos. Caso contrário, incorrer-se-á em injustiças, cunhas, apadrinhamentos e odiozinhos, e disso já temos que chegue.

Saturday, June 10, 2006

Falta Cumprir

O INFANTE

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.


Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!


Fernando Pessoa, Mensagem

Quem sabe, seria boa ideia deixarmo-nos de patriotismos de bandeira aquando de Europeus e Mundiais de Futebol e passarmos a um patriotismo mais prático. Portugal não se encontra numa situação fácil, mas choros e lamentos não levam a lado nenhum nem atenuam o défice. Deixemos a mito messiânico. Se numa manhã de nevoeiro, D. Sebastião regressasse provavelmente íamos todos combater para o Iraque.

Sunday, June 04, 2006

Cronos Cruel


O tempo é algo difícil de definir. Há quem prefira contá-lo de segundos a anos, sem contudo entender que o tempo é a medida da intensidade das nossas experiências e não a sua duração. Talvez por isso ele seja tão cruel: dos minutos que se arrastam durante uma espera até às horas que voam em agradáveis afazeres ou companhias. Como se algo malévolo e perverso pretendesse arrastar a ansiedade, o aborrecimento ou o sofrimento e encurtasse o prazer, o gozo e a alegria, manipulando dolorosamente não os nossos patéticos relógios, mas algo muito superior, intrínseco ao próprio Universo.
Desde uns tempos a esta parte, sinto que o tempo foge de mim e essa sensação é no mínimo frustrante. Como se os dias fossem embalados na preocupação constante de ter sempre algo a fazer. Este ano lectivo (porque a minha vida é contada em anos lectivos e não anos civis) passou com uma velocidade incrível. Lembro-me ainda das primeiras conversas com os meus colegas de curso em que, ainda desconfiados de um conhecimento recém-adquirido, apenas aflorávamos terrenos seguros de notas, exames nacionais e expectativas do curso.
Passaram meses sem darmos por isso. E julgo que a sensação é extensiva a todos.
Cronos continua ser o deus impiedoso que devora os filhos, como há séculos os gregos acreditavam quando construíram o enredo intricado dos elementos do seu panteão.


(A sinceridade obriga-me a dizer que durante o mês de Junho não voltarei a escrever no blog. Se tudo correr como previsto, estarei de regresso em Julho. Até breve)