As pessoas que pensam são perigosas
A memória é uma coisa curiosa. Ao procurar uma comparação que enriquecesse estas palavras, conclui que a memória é como a maré que devolve à praia maravilhas insuspeitas sob a forma de conchas e búzios, seixos rolados pelo tempo, madeiras de naufrágios passados e garrafas que preservam palavras há muito esquecidas.
Há dias, sem que nada o desencadeasse, lembrei-me de uma história que paira incerta entre os meus 6 e 9 anos. Foi-me contada pela minha professora da primária e, segundo os meus cálculos, refere-se a uma situação passada há 50 ou 60 anos.
Imaginemos uma criança que entra em conflito com os irmãos mais velhos. Essa criança é a minha professora. Como retaliação de uma travessura de que foi vítima, ela repete a viva voz um insulto aos irmãos. Estes, incomodados pela relativa dose de verdade ou pela insistência do insulto, mandam-na parar, sob ameaça de umas valentes palmadas.
Lembro-me que a minha professora contou a frase com que invectivava os irmãos, mas não consigo recordar qual era. O que recordo claramente, porque me revelou uma verdade que anos mais tarde consciencializei, foi o que respondeu à ameaça:
- Podem obrigar-me a calar mas vou continuar a dizer para dentro.
Tamanho atrevimento custou-lhe mesmo umas palmadas.
A verdade que mais tarde descobri, e que a minha professora usou por instinto, foi que nenhum pensamento pode ser silenciado pela coação física. Porque o pensamento não é feito da mesma matéria que a carne e como tal não sofre como ela. A voz interior, quando sabe que tem razão, é persistente. E por muito que as palavras o neguem, a Terra continua a girar em torno do Sol.
Há dias, sem que nada o desencadeasse, lembrei-me de uma história que paira incerta entre os meus 6 e 9 anos. Foi-me contada pela minha professora da primária e, segundo os meus cálculos, refere-se a uma situação passada há 50 ou 60 anos.
Imaginemos uma criança que entra em conflito com os irmãos mais velhos. Essa criança é a minha professora. Como retaliação de uma travessura de que foi vítima, ela repete a viva voz um insulto aos irmãos. Estes, incomodados pela relativa dose de verdade ou pela insistência do insulto, mandam-na parar, sob ameaça de umas valentes palmadas.
Lembro-me que a minha professora contou a frase com que invectivava os irmãos, mas não consigo recordar qual era. O que recordo claramente, porque me revelou uma verdade que anos mais tarde consciencializei, foi o que respondeu à ameaça:
- Podem obrigar-me a calar mas vou continuar a dizer para dentro.
Tamanho atrevimento custou-lhe mesmo umas palmadas.
A verdade que mais tarde descobri, e que a minha professora usou por instinto, foi que nenhum pensamento pode ser silenciado pela coação física. Porque o pensamento não é feito da mesma matéria que a carne e como tal não sofre como ela. A voz interior, quando sabe que tem razão, é persistente. E por muito que as palavras o neguem, a Terra continua a girar em torno do Sol.